segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Aliança


Compromisso: essa palavra é muito séria.
Casamento: outra palavra ainda mais séria.
Palavras escolhidas podem soar como metáforas,
mas pacto algum é metafórico.

Um entrega seus sonhos
e com eles uma enorme parte do coração.
Outro recebe, e tem que tratar bem,
Como quem trata o próprio coração.
Com paixão, com devoção
Fazendo, daqueles sonhos, os seus.

Outro também entrega o coração
Sensível, sincero e transparente.
Machucado mas curado,
Fortalecido e revigorado.
Coração grato pelo ar que respira.
Coração maior do que o corpo comporta.

Isso se chama aliança.
Aliança não é um anel,
É troca de corações,
É fusão de sonhos,
É compromisso moral,
É sinergia espiritual,
Sintonia indubitável,
Lealdade inevitável.

Só pode existir aliança
quando a liga foi forjada
no meio de grande dose de amor.








quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Comer, rezar, amar... e pensar



Gosto muito de produções de cinema que conseguem unir o real ao lúdico, as angústias da vida com a esperança de um futuro melhor. Isto é o ser-humano, isto é ser humano: produtor de antagonismos e vítima de suas próprias contradições, mas inevitavelmente belo em toda sua integralidade e fascinante na sua inteireza.


O filme me impactou pela sua beleza e realismo, pela sua romântica visão das dores da vida. Impactou tanto quanto Carta para Julieta, que mostra a vida de forma "romântica incurável", esperançosa incansável, amante ardorosa dos relacionamentos humanos, apesar de tudo e de todos.


É uma produção muito bem feita. Julia Roberts, está impecável e Javier Barden também, dois profissionais que admiro demais. Dá para entender porque ele foi escolhido para o papel, embora passar por brasileiro tenha sido uma tarefa tremendamente árdua para ele. Aparentemente, ele "não deu conta", mas ainda bem que não deu. Se os autores tinham intenção de passar a imagem de um homem meigo, sofrido, com vontade de amar, mas com muito medo, na minha visão, o homem brasileiro ainda consegue ser mais medroso, menos meigo e menos comprometido com as emoções de uma mulher do que o espanholíssimo Barden conseguiu representar. Então acho que ele se saiu melhor que um brasileiro teria se saído, rs. Pelo menos ele teve coragem de recomeçar, apesar de suas hesitações, coisa que em geral o homem brasileiro não faz, salvo raríssimas e louváveis excessões.


Eu havia passado a tarde inteira trabalhando com um amigo e estudávamos um certo perfil de pessoa para uma palestra que vamos dar dentro de alguns dias. O tempo todo um tema se repetia: a falta de coragem que as pessoas tem para assumir riscos. O filme fala sobre isso também.


A gente quer amar sem perder o equilíbrio, sem sofrer, sem perder o controle da gente mesmo... como se isso fosse possível. Mas amar é perder o controle, é perder o equilíbrio, é arriscar certezas, é dar passos no escuro, no fim das contas, amar é um tremendo exercício de fé. É fechar os olhos e se lançar na confiança que você tem na outra pessoa. Não dá pra ser de outro jeito. Não tem como ser de outra forma. Depois de ter sido decepcionado pela vida, pelo seu grande sonho de amor, é ter coragem para fazer tudo outra vez porque amar vale muito à pena.


Assistam ao filme e tenham coragem de amar de novo! Vale muito à pena!




sábado, 25 de setembro de 2010

GALOPE RASANTE (Zé Ramalho)

A sombra que me move também me ilumina
Me leve nos cabelos, me lave na piscina
Em cada ponto claro cometa que cai no mar
Em cada cor diferente que tente me clarear
É noite que vai chegar, é claro, é de manhã,
É moça anciã...

O pelo do cavalo, o vento pela crina
O hábito no olho, veneno lamparina
Debaixo de sete quedas querendo me levantar
Debaixo de teu cabelo a fonte de se banhar
É ouro que vai pingar, na prata do camelô
É noite do meu amor

É noite que vai chegar,
É claro que é de manhã
É moça e anciã


NINHO SEGURO (06/02/2010)


Quanto mais te conheço, mais te gosto.
Tua sobriedade me acolhe,
Tua serenidade me sossega,
Tua ponderação me desafia,
Teu detalhismo me fascina,
Tua música me acalenta,
Tua lógica irresistivelmente me seduz.
E teu abraço? Ah, teu abraço...

Teu peito é um ninho seguro onde eu adoro estar
esquecendo toda dor, não vendo o tempo passar,
me instigando a trocar tudo que tenho
por morada perene neste lugar.



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PRENDA MINHA (Ceumar)

Prenda minha tu me faz bem,

muito aquém do que eu mereço

mas eu desejo que esse bem,

assim, feito água em pote,

faça umedecer um coração que sofre.





terça-feira, 21 de setembro de 2010

TEMPO E DESTINO (Vital Lima e Nilson Chaves)

Há entre o tempo e o destino
um caso antigo, um elo, um par
que pode acontecer, menino,
se o tempo não passar ?
Feito essas águas que subindo
forçaram a gente a se mudar
Que pode acontecer, meu lindo,
se o tempo não passar?
O tempo é que me deu amigos
e esse amor que não me sai
que doura os campos de trigo
e os cabelos de meu pai
Faz rebentar paixões
depois se entrega às criações
e assim mantém a vida...
Que acontecerá aos corações
se o tempo não passar?
Não mato o meu amor,
no fundo porque tenho amizade nele
que já faz parte do meu mundo
do tempo entre eu e ele.




domingo, 19 de setembro de 2010

Asa Morena (Zé Caradípia)


Me faz pequena, asa morena
Me alivia a dor
Aliviando a dor que mata
me faz ser seu amor.

Me toma (no crescer)
de um beijo muito louco
me implodindo aos poucos no universo
a desvendar a vastidão do teu amor.

Me toma sem pensar
Num gesto muito forte
unindo o sul e o norte do meu corpo
frágil corpo com a mais pura emoção.

Me faz pequena, asa morena
me alivia a dor,
Alilviando a dor que mata
me faz ser seu amor.



sábado, 4 de setembro de 2010

CANOA NA LAGOA


CANOA NA LAGOA

O Criador pintou um quadro cheio de amores.
Pincelou nele suas emoções mais densas
Tons vigorosos de roxo, com amarelo nas flores,
Energias contrastantes, assustadoras intensas.

Na relva e nas ávores, a convidar para um passeio ecológico
um verde energizante, brilhante,
Na lagoa serena de aspecto bucólico
a profundidade de um azul enigmático, calmante, refrescante.

Sobre as águas da lagoa,
tons serenos de azul e laranja denunciam um lindo alvorecer.
E sentada, lendo um livro na canoa,
uma bela jovem, sua preciosa, faz uma oração, parece interceder.

Uma esperança inexplicavelmente encontrada
renovada por aquele enigmático amanhecer
se movimenta, pelo sopro divino alimentada,
sopro que cria, que faz a vida acontecer.

Sorri para seu quadro um Criador enamorado.
Sopra com Seu fôlego, cada pincelada na tela.
O quadro vivo agradecido sorri, entusiasmado.
"Voilá! Eis minha obra de arte, maravilhosa e bela!"

Por quatro décadas o Criador trabalhara com afeto.
Dia após dia acrescentava algum detalhe omisso.
Sabia que ainda faltava algo ao projeto
mas seu perfeccionismo, não permitia encerrar o compromisso.

Decidiu expô-lo, mesmo inacabado, e assim o assinou.
Por certo os visitantes lhe apreciariam a paisagem.
Colocou-lhe uma moldura caprichosa pela qual se esmerou
e o pendurou no centro da galeria. Que o visse os de passagem!

Antes de abrir a exposição o Criador teve uma última ideia:
aquele que discernir o sopro e a energia vital que neste quadro coloquei,
e se o amor que flui de suas cores lhe cativar, como a uma plateia,
concederei que me sugira o que falta, e com as últimas pinceladas o concluirei.

Assim o dono fará parte do quadro e o quadro fará parte do dono.
Pela minha vontade, e durante a minha eternidade, eu os unirei.
O dono amará o quadro e o quadro amará o dono.
Alegre e eternamente, com minha graça os presentearei.

Empolgado com a ideia o Criador abriu a galeria.
Crianças, homens e mulheres se aproximavam.
Os mal-educados e grosseiros lhe causavam avaria,
mas os verdadeiros apreciadores Da Arte admiravam.

Os críticos sentenciavam: "mistura chocante de cores; péssimo gosto",
Outros se inspiravam na paisagem, querendo conhecer seu autor,
Curiosos entravam e saíam da galeria, agosto após agosto,
anos sem discernir o imensurável amor do pintor.

Um dia surgiu na galeria um jovem melancólico, que amava o Criador.
Inteligente, amante das artes, sensível, de um jeito muito próprio.
Como os demais, ele tinha impressões sobre o quadro e seu autor.
O achava belo, mas jamais o teria como seu. Era, digamos... impróprio.

Mas uma inexplicável vontade de estar perto do quadro, tomou conta do jovem
que agora frequentava a galeria com assiduidade.
Por horas a fio juntava-se ao quadro, criando para o cotidiano uma ordem,
que integrou a sua rotina como uma alegre atividade.

Do roxo com o amarelo contrastante recebia calor revigorante.
No azul profundo das águas, era desafiado a meditar, a conhecer o Criador, a o imitar.
Do verde brilhante o relaxamento para a saúde do corpo , estimulante, até dançante.
Quantos mistérios ainda haveria no quadro para os desvendar?

Encantado ficava com o azul alaranjado do inexplicável alvorecer
que traz à vida alegria, transformado as emoções em poesia.
Mas seus olhos repousavam sobre a canoa da lagoa, como a lhe dizer:
a solidão da jovem é igual à sua. Cabisbaixo e concernente ele discretamente sorria.

Naquele instante o quadro começou a fluir amor pelo jovem.



O quadro lhe trazia calor, aconchego, aceitação, apreço
Se reparasse bem, também lhe incentivava a criatividade, transmitindo-lhe saúde e energia.
"Mas como pagá-lo com aquele enorme preço?"
Se afastava. Sentia saudade. Voltava. "Aquilo? Amor? Não! Não podia!"
'
Escondido o Criador observava tudo, empolgadamente agitado.
Olhou para a paleta de tintas, fantasiando, finalmente, a possibilidade.
Após tantos anos, as pinceladas finais! Que momento aguardado!
Com um sorriso maroto especulava pintar o jovem ao lado da sua preciosidade.

Entretanto o jovem se aproximava, e da ternura do amor do quadro usufruía,
mas não aceitando amar algo que não desejava, confuso e triste se afastava
questionando, por que o quadro lhe atraía?
"Sentimento estranho!" - estar seguro e confiante, desejando algo que não amava.

Cabisbaixo e pensativo, o jovem retomava sua estrada.
Desistia do quadro diariamente. "Assim deve ser!" - lhe dizia dona razão.
E andava pelas ruas da cidade, da escola ou do trabalho para a morada,
se perguntando: se a decisão está certa, por que triste é meu coração?

"E agora meu Mestre, o que será?" Perguntou o quadro ao seu autor.
Enamorado por sua obra, suspirando o Criador falou:
"Eu te amo querida, minha preciosa. A você nenhuma dor".
Com um toque mágico do seu pincel, colocou o amor do quadro para dormir.

"O tempo não pertence a ninguém" - murmurou - "só a mim"
E cobriu seu material de pintura por mais um tempo...





segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Coração de Mulher



O coração de uma mulher é como uma casa.
Tem quarto, sala, cozinha, banheiro, área de serviço...

O banheiro é o cômodo dos fluídos, em tudo ali se pode jogar água e lavar.
O banho é terapêutico, relaxante, e o que sai dele é um corpo limpo e cheiroso.
A sala é onde se coloca as pessoas que entram na nossa vida, mas só de passagem.
É o espaço de se abrir um pouco, mas não o suficiente para mostrar todo o resto da casa.
A área de serviço é para onde vão as lembranças das pessoas que nos machucaram.
Tudo que vai para a área é para jogar no lixo, para limpar, para descartar.
A cozinha do coração de uma mulher é um cômodo sagrado.
Para este cômodo uma mulher só convida alguém com quem ela deseja cozinhar junto.
A comida é o que sustenta o corpo, sustenta nossa existência, sustenta a vida.
Quando uma mulher convida alguém para compartilhar a cozinha do coração
é porque ela sabe que, com este alguém, é possível construir algo para a vida inteira.
O quarto do coração é o compartimento da total intimidade.
É ali onde ela se despe, se embeleza, se veste.
É ali que ela rasga a alma, se despindo até as vísceras, sem guardar segredos.
Para o quarto só são convidadas pessoas que evoluíram na cozinha.
Que perceberam que aquele era um lugar de culto, um espaço sagrado.
Para o quarto só se leva aquele que será amado até o ultimo dos nossos dias.
Alguém que cozinha o alimento para a vida junto conosco,
que partilha deste alimento e, naquele quarto,
descansa o sono gostoso, do repouso, da paz.
Não há coisa mais triste para uma mulher
do que ter que colocar na área de serviço do coração,
alguém com quem ela já compartilhou o quarto,
mas que não merece mais estar ali.
Uma parte do coração acaba sendo arrancada, mutilada,
e este fica defeituoso, incompleto, áspero, sem maciez.
Somente uma nova obra de arte
do Maestro do Universo
é quem regenera completamente um coração tão ferido,
e com Seu bálsamo enxuga o pranto,
devolve a capacidade de sonhar,
traz para o coração alguém novo,
constrói um quarto maior,
amplo, arejado, cheio de flores e perfumado,
que será também santuário,
lugar de intimidade,
lugar da prece, de devoção,
lugar de dividir sonhos,
lugar de realizar sonhos,
lugar de ser grato ao Criador
pela existência do outro ser ali presente.
A área de serviço continuará sendo usada para descartar coisas,
para se desfazer das tristezas,
para eliminar as memórias que causam dor,
jogar fora as decepções,
desistir dos sonhos desfeitos
Afinal, não é porque o amor chegou que todos os sonhos da vida se concretizarão.
Muitos sonhos podem não se cumprir,
e deles talvez seja necessário se desfazer.
Mas desta vez, ela será será usada pelos dois,
porque os dois corações serão só um,
e mutuamente se curarão.